“A
vida é ruim; eu sei. Mas ainda não vou cortar a teia da própria vida feito
ela minha mãe: o vocábulo é minha âncora; aqui
desta mesa-mirante observo
o
anoitecer dos outros para esquecer-me do próprio crepúsculo.
É
domingo. Chove choro. Tenho medo.”
Evandro afonso
ferreira é um escritor do abismo. E nos relata com este livro a experiência
extrema da proximidade da morte, medo, e tristeza.
Com uma voz rouca e
melancólica, o personagem descreve o mundo ao redor misturado a lembranças de
sua mãe, louca, bêbada e suicida, que deixou a vida sem despedir-se. Sentado na
mesa de um café, o tempo não passa, a tempestade que bate nas janelas prenuncia
um dilúvio, e a morte aos poucos se aproxima. E apesar de reconhecer o quanto a
vida é ruim, há o medo de morrer, do vazio, e por isso o personagem escreve,
como maneira de segurar-se a este mundo. Somente o parco amor recebido de sua
mãe e a amizade da amiga-filósofa formam uma magra luz neste universo cinza.
A capa com uma
mancha de sangue reflete o quanto o autor está neste livro. Evandro mostra-se
um desses escritores mais que sinceros, que fazem do papel um espelho da alma.
A escrita é marcada pela repetição, e por neologismos como
“perplexo-deslumbrado” ou “mãe-moleque”, que o autor cria na necessidade de
recursos para descrever um universo tão pessoal.
“Minha mãe se matou
sem dizer adeus” é o monólogo de um homem marcado pela decrepitude e tristeza
existencial. Mais ainda, um homem que faz de seu discurso, o ultimo elo com a
vida. “Às vezes penso que nasci apenas para escrever; não nasci para viver;
escondo-me atrás das palavras”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário